Um dia destes entrevistámos o
Marcos Bastinhas.
Ora recorde esta beleza de entrevista...
Marcos,
muito obrigado por ter aceitado ser entrevistado por nós. Para sua
informação, o Marcos é o primeiro cavaleiro com coragem para nos
enfrentar. Está com medinho, ou não há nada que o atormente?
É mais fácil tourear um Miura do que responder às vossas perguntas, mas vou encará-las de frente...
Afinal como é mesmo o seu nome artístico? Marcos Bastinhas? Marcos
Tenório? M. Bastinhas JR? É que já vimos todos estes nomes em vários
cartéis e sentimo-nos um pouco desorientados. Qual deles é o mais
bonito? E com qual deles costuma triunfar mais? Tem de haver uma
explicação para essa múltipla-polaridade…
Na verdade, depende do sítio onde é a corrida e de com quem vou tourear..
Mas prefiro Marcos Tenório, pois sempre quis que as pessoas me
conhecessem como o Marcos Tenório e não como o filho do Bastinhas.
O Marcos é familiar dessa lenda viva da tauromaquia nacional: O
comendador Nabeiro! (Graças a ele e aos cafés, não adormecemos nas
chatas corridas nacionais!)… Responda-nos então… o Marcos tem uma
Nespresso lá em casa, ou isso seria pecado?
Não sou pessoa para
criticar os gostos de cada um, no meu caso pessoal mais que pecado
seria desleal. Quase como se eu se fosse fazer um estágio na casa de
outro toureiro, renegando o maestro com mais de 30 anos de alternativa
que, por acaso, é meu pai. Além do mais, a referida marca nunca apoiou a
festa brava, coisa que a Delta já fez inúmeras vezes
Sempre
disse que o seu pai (o grande Bastinhas) lhe deu total liberdade para
escolher a sua profissão. Mas isso da liberdade foi antes ou depois dele
lhe ter dado com o cinto e o ter ameaçado deserdar, quando você lhe
disse que estava a pensar vender os cavalos e viver unicamente dos
cafés?
Pois, foi complicado, porque não sei se sabem mas o meu
pai pertenceu aos comandos e quando lhe salta a tampa...saiam da frente! :)
No entanto, pouco havia a fazer porque desde que comecei a montar e
depois a tourear umas vacas em festas organizadas pelo meu avô, em Campo
Maior, sempre soube que queria ser toureiro! Brincadeiras à parte,
sempre tive total liberdade e o meu pai ficou contente com a minha
decisão, apesar de apreensivo por saber que esta é uma profissão que
acarreta muitos sacrifícios, pelos quais ele próprio passou, desde,
muito novo, ir a conduzir a camioneta por essa Espanha fora e entrançar e
aparelhar ele os cavalos, antes das corridas. Hoje em dia é tudo
diferente e eu só tenho a agradecer ao meu pai a facilidade de já ter a
máquina montada.
Você deve ter tido uma infância muito feliz!
Conhecendo o seu pai como nós conhecemos, assim como as bandarilhas, o
seu pai deve ter-lhe dado tudo aos pares! Não? Dois carros
telecomandados, duas chupetas, dois livros da Anita…
Sim, tive
uma infância feliz, mas os pares ele reservava-os para as praças. Até
porque, embora sempre presente, o meu pai nas férias de verão, por
exemplo, estava sempre fora a tourear e, então, quem me aturava era a
minha mãe.
Nós fomos ao delírio num dia destes, numa
corrida onde você toureou com o seu pai! É que, depois de uma lide
extraordinária , ambos se apearam em plena praça, deram uma palmadinha
nos cavalos e estes seguiram sozinhos para as cavalariças! Isto é coisa
para levar muito tempo a treinar? Ou costumam comprar os bichos ao Vitor
Hugo Cardinalli e estes já vêm com o número ensaiado?
Leva
muito tempo a treinar, e, por vezes, acreditem ou não, aqui na herdade
andam os cavalos todos malucos à solta pois ainda não estão no ponto e
quando nos apeamos e damos a palmadinha eles lá vão por esses campos
fora. ;)
Agora a sério e em jeito de confidência, como falaram na arte circense,
há muitos anos quando o meu avô Sebastião ainda era vivo, e tinha uma
vida activa nos cavalos, vários circos iam ter com ele a querer comprar
alguns cavalos, visto que ele era um excelente equitador, quase um
encantador de cavalos.
O Marcos é soberbo no “Piaffe and Passage”! E como é que estamos de zumba e kizomba?
Ora como é que vos explico de forma explícita... tudo o que seja dançar
sem o cavalo não tenho vocação nenhuma, mas sou óptimo a ficar
sentadinho a beber uma cervejinha.
No dia 10 de Julho de
2008, enquanto você estava a receber a alternativa, nós estávamos no
Optimus Alive a ver Bob Dylan. Perdemos alguma coisa que valha a pena?
Ou isso da alternativa não é nada que não se resuma num parágrafo?
Antes de mais, perderam uma festa muito bonita com a praça cheia, o que
acontece cada vez menos, e perderam a oportunidade de me verem receber
tantas flores que dava para abrir uma florista.
Acima de tudo é um
dia que fica marcado na carreira de qualquer toureiro, nesse dia termina
uma e começa outra etapa, em que temos de lutar e agarrar todas as
oportunidades para vingarmos nesta vida.
Você deve ser o
único cavaleiro que conhecemos que toureia montado num “Bombom“. Quem é
que deu o nome a este cavalo? Temos para nós que deve ter sido alguma
miudinha de três anos do infantário do seu filho…
A verdade é
que esse cavalo já vinha com nome, mas tenho de assumir que tourear nele
é como comer um belo bombom, pois já me deu inúmeros triunfos.
No
entanto e como estamos a falar em nomes, sempre é melhor chamar-se
Bombom do que Passarinha, ora o Cabo imagine lá o que seria "Marcos
Tenório monta a Passarinha.."
Provavelmente, assim como
muitos outros colegas, o Marcos deve ser supersticioso. Aquela regra de
que o tricórnio não se coloca nunca em cima da cama, também é válida
para beliches, divãs e sofás-cama? Ou é só para camas? E é indiferente
ser uma cama de casal ou de corpo e meio?
Aplica-se a todo o
tipo de mobiliário para dormir, mas são superstições que, por vezes, nem
são nossas, mas que as adoptamos porque vemos os mais velhos a fazer e
acabamos por ficar com elas, e também dão uma certa misticidade à
tauromaquia, é uma questão de cultura taurina.
Há uma coisa
que nos entristece! Há cerca de um ano, o Marcos lançou o seu novo site
(muito catita, diga-se a verdade!) onde podemos encontrar uma secção de
“Merchandising” que ainda hoje diz “BREVEMENTE”. Não seria bom, de uma
vez por todas, começar com a venda desse merchandising? Nem sabe o
quanto ansiamos por ter uma t-shirt com o seu retrato!
Não se preocupe, porque para o Cabo eu faço questão de enviar t-shirt e um boné, assim que souber para onde... claro!
A questão do merchandising do site é que não queremos abrir esse sector
para apenas vender t-shirts, e então estamos em conversações com
grandes multi-nacionais para fazerem parceria connosco.
O
Marcos tem muito cuidado com a sua imagem! Apresenta-se sempre
impecavelmente penteado quando entra em praça. É Gel, cera, ou aguínha
benta para chamar o triunfo?
É o que está mais à mão, mas pelo
respeito que tenho pela profissão penso que é nosso dever apresentar-nos
o melhor possível, para mim vestir uma casaca é uma grande
responsabilidade, e se, por vezes, não é possível triunfar com os toiros
então que triunfemos com a imagem :)
A sua simpaticíssima esposa, Dália Madruga, escreveu o seguinte no
mural do seu facebook “Marcos Tenório, sei que nem sempre sou muito boa
a fazer elogios, mas sinto que sabes o imenso orgulho que tenho em
ti!”… Acha que ela tem mesmo razão para ter orgulho em si, ou para não
variar, as mulheres são sempre umas exageradas?
Sim, as
mulheres são sempre umas exageradas... Mas ao escolhermos uma pessoa
para estar connosco para a vida temos de lhe ter o máximo respeito e
tratá-la da melhor forma, e acredito que se formos felizes a fazer o que
gostamos é claro que quem nos rodeia também sente essa felicidade.
Afirmou recentemente numa entrevista que todos os críticos
tauromáquicos têm os seus cavaleiros favoritos. Só por isso e por essa
coragem, passou a ser você o nosso favorito! E olhe que ao contrário dos
outros, você é o nosso favorito sem nos pagar um tostão! E então, quer
comentar? Ou avançamos para a próxima pergunta e pronto...?
Não
o disse para ferir ninguém, até porque acho normal uma pessoa gostar
mais de um toureiro do que de outro, os árbitros também têm clubes de
futebol que perdem com as suas arbitragens, é pena que isso não se passe
também na tauromaquia, ter a hombridade de se ser justo e verdadeiro,
no nosso mundo quando se lê certas crónicas taurinas do pouco que
fizeram, são triunfadores.
Por falar nisso, o Marcos
costuma ler a imprensa taurina nacional? Quais são as características
que, na sua opinião, faltam na imprensa taurina nacional? Tente lá
responder a esta questão sem usar a palavra “isenção”…
Não é
uma resposta fácil, mas penso que falta um pouco de conhecimento sobre
tudo o que rodeia o mundo do toiro, muitos nem sabem o que é preciso
para pôr um cavalo a tourear, qual o cavalo adequado a cada tipo de
toiro, das dificuldades que cada toiro apresenta, da forma como o
cavaleiro constrói a lide, a gestão do calendário de forma a chegar às
corridas mais importantes com os cavalos no pico de forma. Não se vê
comentários aos detalhes, porque muitas vezes estão nas praças, mas nem
para as lides estão a olhar! De qualquer forma, convido, a quem possa
interessar evoluir e perceber todo o trabalho que existe por detrás de
cada corrida, a vir até Elvas, e passar uns dias na casa de um toureiro
para falarem e escreverem com conhecimento de causa.
Cumpre
este ano 6 anos de alternativa, o que é uma coisa boa. Seis anos não
são assim tantos anos… ainda está a tempo de voltar a trás e optar
pelos cafés…
Cumpri 6 anos de alternativa, a 10 de Julho, não
são muitos, mas os suficientes para já ter experiências muito boas e
poder dizer que tenho a sorte de poder fazer o que mais gosto, o que
hoje em dia não é fácil. Tenho a profissão mais linda do mundo, que
junta um pouco de tudo, não há monotonia, todos os dias se aprende
qualquer coisa e onde se cresce muito como pessoa.
Não
sei se sabe, mas se você não souber, nós informamos: Um cavaleiro só é
considerado FIGURA quando tiver um par de botas D ´Ornellas. Então e
você? Já tem umas? Se não tiver, pode ser que nós lhe consigamos um
desconto…
Tem razão Cabo, pelos vistos ainda não atingi esse
patamar. E acabo de descobrir que não sabia que existiam assim tantas
figuras, a fazer contas às botas...
Mas como gosto de si,
faço-lhe outra confidência, na última edição da Golegã, estive no stand
que faz as referidas botas e encomendei umas para mim, a metade do preço
dessas e quando chegaram ainda lhes pus o meu ferro... Creio que ser
figura também é preciso ser inovador e não seguir em rebanho!
Vamos confessar aqui uma coisa... Por algum motivo o escolhemos a
si para ser o nosso primeiro cavaleiro entrevistado. (E olhe que havia
por aí figuras dispostas a pagar para ter esse privilégio). Mas
resolvemos escolhê-lo a si porque o Marcos é realmente uma boa pessoa,
humilde, trabalhador e que merece tudo de bom. Como é que uma pessoa de
bem como você, sobrevive nesta selva que é a tauromaquia nacional? Usa
um alho e uma figa dentro do bolso que fica do lado do coração?
Para mim o mundo da tauromaquia significa muito trabalho, empenho e
insistência em fazermos as coisas bem feitas. Preocuparmo-nos connosco e
com a nossa consciência e não nos metermos no que não somos chamados, a
arrogância e a prepotência não nos levam a lado nenhum, pois o caminho a
seguir deve a rectitude e a capacidade de trabalho. Temos de ter
objectivos bem definidos e segui-los sempre, pode levar mais tempo, mas
havemos de chegar a algum sítio.
Temos aqui este soutien
que uma prima nossa, emigrada em França, nos enviou, quando soube que
nós o iríamos entrevistar. Ela pede que o autografe. Não se importa? Ou
temos de pedir autorização à Dália?
A Dália não se importa,
pois sabe separar as coisas. E ter público que nos admira e paga o
bilhete para nos ir ver é o que separa um toureiro do outro. Podem
mandar vir soutiens ou cuecas, desde que limpinhas, que eu assino :)
E pronto, Marcos! Ficar-lhe-emos eternamente gratos por este
momento! Vamos partir naquela estrada, não sem antes lhe fazer a
pergunta que o mundo espera: Marcos, o que dizem os seus olhos?
Cabo, neste momento um dos olhos não diz grande coisa, pois ainda não
vejo muito bem, mas o outro diz que me sinto com uma enorme vontade de
voltar as praças, pois um toureiro vive das corridas, esta é a minha
vida. E também quero muito regressar para poder honrar esse grande homem
e grande amigo que foi António Morgado.
Posso ainda garantir que
podem esperar muito de mim, pois sei que ainda posso crescer muito como
toureiro e que tenho coisas importantes para fazer na festa!
Aproveitar esta oportunidade para agradecer a todo o público que me apoia, e a vocês pelo privilegio de ser o vosso eleito.
O meu muito obrigado!
Marcos Tenório
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